quarta-feira, 14 de julho de 2010

“ SANTIGLÒ “

SANTIGLÒ , é um nome diferente, estranho para falar a verdade. Originou-se de três nomes: Sandra , Matilda e Glória . Daí o nome ...

Depois de muitas reuniões na Matriz do bairro onde morávamos , Benfica ; fomos convidados pelos padres de nossa comunidade , para melhorar nossos conhecimentos religiosos, em uma pequena cidade de Matias Barbosa. Fomos de ônibus cantarolando e muito felizes. Chegamos lá , encontramos outras pessoas , homens e mulheres e muitos jovens de diversas cidades de Minas Gerais. Fizemos muitos amigos .

Todos os dias levantávamos bem na matina e fazíamos uma espécie de relaxamento em volta do imenso pátio . Como era bom! Depois disso , ficávamos enclausurados ,durante alguns dias . Digo enclausurado, porque não podíamos comunicar com nossa família , após fechados os enormes portões de ferro . Nossa, que calor ...!Verão pesado e ficar trancado, dentro do salão , quase o dia inteiro, não é fácil . Não salão, recebíamos as informações da Bíblia e logo ,íamos para o pátio , discutir o que realmente aprendemos . Nos pequenos salões, juntamente com um dos coordenadores de grupo,colocávamos no caderno o que aprendemos da bíblia e aprendíamos as experiências de outras comunidades e colocá-las em prática . Gozado. Tínhamos hora pra tudo : para levantar, banho, café , da manhã e da tarde . Não podíamos esquecer de jeito nenhum , as sementinhas da Palavra que estavam sendo semeadas no grande salão . O café da manhã, era servido as seis horas, o almoço as doze horas ,o café da tarde as quatorze horas e o banho as dezesseis e o jantar saía mais o menos as dezessete horas . Eu me sentia um soldado, recebendo ordens de um sargento . Eram ordens e mais ordens. Uma voz se fazia ouvir ao longo do corredor ,após as vinte e duas horas : não quero ouvir risos ,cochichos e tão pouco ver luz acesas . São todos ouvidos ou querem que eu repita ?? Eu, inocentimente perguntei ao coordenador: senhor , posso deixar a luz acesa mais alguns minutos, para eu fazer minhas orações? Ele falou com uma voz de reprovação: posso saber por quê ? Eu constrangida e trêmula respondi: é que eu sou legionária e como tal , tenho que fazer a oração da catena e rezar o terço todos os dias . Com uma voz nada gradativa disse : você por acaso é freira ,uma noviça?? Eu trêmula respondi: não ,senhor , nem uma coisa nem outra . Ele depressa falou , não vejo motivo para tanta oração ... Apague a luz e silêncio total ! Mas , o sono não chegava e eu fiquei pensando em tudo que aprendi nesse dia . Havia dois compartimentos ,dois dormitórios , para homens e dois para mulheres ,separados por apenas uma enorme sala de estar . Tudo limpinho e aconchegante , para um bom sono .

No meu quarto havia três bi-camas ,uma ocupada por duas mocinhas de Barra- Mansa ,muito simpáticas,umas gracinhas. Outra ocupada por duas senhoras também muito simpáticas. A terceira , ocupada por mim e uma mocinha linda e da mesma cidade que eu e se chama Sandra . Logo apareceu a Tida , que ocupava o quarto ao lado do nosso . Juntas , formávamos o trio mais alegre de todos os grupos , na hora da recreação . Eu ocupava a parte de baixo da cama e a Sandra a de cima , por ser magrinha . Embora não poder nem sussurrar , até o sono chegar , eu usava apenas as mãos para comunicar com as pessoas que estavam no quarto . Eu peguei um dos cabides que estavam pendurados na nossa cama e comecei a desenhar . A Sandra, como era a mais nova do nosso quarto , eu a desenhei vestida de bailarina equilibrando nas pontinhas dos pés e outro no ar ,como estivesse dançando . A Matilda (Tida) eu a desenhei com os braços abertos ,rindo , ou melhor , dando gargalhadas, pois ela ria de tudo e tudo era motivo de risos (muito espalhafatosa) . E eu, anjoelhada rezando ,com o terço na ,diante de um crucifixo , dentro de uma igreja .

Logo em seguida ,uma voz entoou lá do enorme corredor ... silêncio, parem de cochichos. Vamos dormir !!! Isso porque a Tida ainda não tinha ido para o seu quarto e ela não sabia ficar com a boquinha fechada ... falava muito alto . O silêncio chegou e tomou conta de todo prédio . E assim aconteceu por vários dias . Pronto, chegou o final... Os portões finalmente abriram-se e cada um se despediu pesaroso por que ,talvez , nunca mais nos encontraríamos ...

Bem ... quando chegamos a rua da rodoviária , eu comentei muito triste : Sandra, Tida ;( também ela era de nosso bairro e cidade , íamos pegar o mesmo ônibus . Agora , após ter buscado conhecimentos religiosos, a nossa responsabilidade tornou-se maior e mais pesada . Eu já estava sentindo meus ombros pesados . Hum... e agora? O que faremos ? Temos que saber colocar tudo o que aprendemos em nossa comunidade em prática .Será que vamos conseguir? E agora ? que Deus nos ajude...

Olhei para trás e vi a nossa querida Sandra chorando e a Tida com o braço no seu ombro e isso me preocupou muito . Perguntei: o que foi Sandra, está chorando por quê ? Ela falou choramingando:

“sabe , eu não queria fazer essa experiência , não , eu afiz para agradar a minha mãe , eu não sabia que era tão pesada assim ... É muita responsabilidade !! E agora que farei? O que será de mim ? ... Acabou o meu sossego ,minha liberdade .

Saudade ... Saudade...Muitas saudades.

Matias Barbosa Airolg

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